Um choro de barriga cheia: da janela do meu quarto vejo crescer um prédio onde o sol se põe.
Logo a visita alaranjada nas paredes e plantas vai se tornar lembrança. Talvez eu já nem more mais aqui quando o concreto cobrir o sol. Talvez esse drama seja pura ansiedade. E certeza que reclamo de barriga cheia porque ainda assim, enquanto estiver aqui, a vista continua linda. O que fica é a minha vontade de curtir todo laranja até a última gota. E uma justificativa maior pra encher meu celular com fotos do poente: consciência da futura lembrança.
Melissa Rodrigues
De letras e símbolos. O leme do barco no cardinal do mangue, câncer — lunalítica do passado, presente, futuro. De oráculo e psicanálise. No corpo, vinte e cinco anos e mais cabelos brancos que o esperado.
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